quarta-feira, 8 de abril de 2009

OS PREDADORES VIRTUAIS

Hoje em dia, ninguém mais consegue viver sem a internete que acabou virando um utensílio doméstico. A usamos para tudo: ler jornais, fazer pesquisas, tirar dúvidas de gramática, viajar pelo mundo sem sair de casa, conversar com amigos, receber e enviar mensagens , e-mails, cartões de natal virtuais e até mesmo flores virtuais. Já ouvi dizer que até bombons virtuais podem ser enviados pela ‘net’.

Realmente acho que esta foi uma das ‘invenções’ mais úteis e diferentes dos últimos tempos pois nos une ao mundo, nos ‘globaliza’ e aproxima culturas.

Me lembro que, quando me conectei a internet pela primeira vez, estava morando nos Estados Unidos e me senti nervoso ao ouvir o antigo pummmmm,pimmmmmm, rimmmmmmm.... Estava entrando em um novo mundo, totalmente desconhecido naquela época. Tive uma sensação estranha, como se estivesse entrando em uma nave espacial e indo para outro planeta.

Quando comecei a navegar, senti que uma gama de opções se abriam em minha vida e realmente explorei a net de todas as maneiras possíveis e imaginárias. Foi quando então conheci as famosas salas de bate papo. No começo achei aquilo muito interessante. Poder conversar com pessoas que viviam em outros países, em outros estados. Naquele tempo, programas como msn ainda não estavam desenvolvidos mas já havia um programa cujo nome não me recordo agora, que já se podia até usar as web cams para poder conversar. Me lembro que, quando era pequeno, já visualizava o uso do telefone com câmera. E a internet foi a primeira a apresentar esta possibilidade. Sou do tempo do MIRC, ICQ. Ainda quando morava nos Estados Unidos, comprei um programa chamado Freetel que foi o primeiro programa que você podia “chatear” em tempo real.

Os anos foram passando. Quando voltei ao Brasil, fui um dos primeiros a ter internete na cidade onde moro. Já estava bem experiente no manuseio mas ainda não tinha notado o quanto a ‘net’ podia ser algo perigoso. Infelizmente, tudo que é bom pode também pode ser usado para meios não muito corretos. Logo, apareceram sites como o “Cyber Control’ que visava o controle dos pais na navegação de seus filhos. Afinal, a ‘ net’ estava lá, acessível a todos pois não havia uma chave para ‘abri-la’ ou ‘tranca-la’. Os sites pornográficos começaram a proliferar e as salas de bate papo se tornaram um veículo, não para fazer amizade mas sim para encontros, relacionamentos, sedução e muito engodo.

Todos nós temos nosso lado sombrio. Ninguém realmente se mostra 100% e quantos de nós tem medo de se olhar no espelho e mergulhar em sua identidade real. A ‘net’ se tornou então este espelho real e perigoso.

Em uma sala de bate papo, você pode ser o que quiser. Se você tem 60 anos, você pode ter 22. Se sua altura é 1m63, você pode medir 1,86. Se tem olhos negros, você passa a ter olhos azuis e assim, seres ‘perfeitos’ e virtuais foram surgindo. A web deixa então de ser a fonte do saber e da globalização para tornar-se o mundo da fantasia e da fuga da realidade. Torna-se o lugar onde tudo é perfeito e onde você pode aliviar suas frustrações e desarmonia pessoal. Com isso, tudo se torna então mais perigoso pois deixa-se de viver a própria identidade para começar a viver uma não-realidade que pode ser altamente prejudicial não somente para quem a inventa mas também para aquelas pessoas que estão do outro lado. Os pedófilos proliferaram pois a rede propicia uma identidade cega, surda e muda. E assim, surgem os predadores virtuais, talvez até mais perigosos do que um ladrão. Afina de contas, pelo menos o ladrão você pode ver e o predador virtual se esconde atrás de um teclado.

Com o ‘barateamento’ das web cams, uma nova modalidade surgiu: o sexo virtual. Pessoas se expõe fisicamente uma para as outras como se sexo fosse algo tão somente físico e sem emoções. Homens, mulheres casadas, namorados, namoradas, insatisfeitos com seus relacionamentos e sem coragem de colocar um fim nos mesmos e recomeçar, começaram a buscar a rede como um meio de satisfação e, o mais incrível de tudo, achando ser este um meio sadio. Para muitos, ser expor virtualmente não é sinônimo de infidelidade já que não existe o toque mas sim um meio de ‘aliviar’ suas frustrações pessoais, muitas vezes com a permissão dos próprios parceiros que fazem vista grossa.

Com isso, a mentira, a falta de respeito pelo companheiro(a) proliferaram. Mais uma vez, o ser humano muda seus valores e acha que tudo é muito normal e conveniente.

Conheço pessoas que fizeram da ‘net’ seu veículo de busca de uma satisfação que eles não conseguem ter no dia a dia. Pessoas mal amadas, mal queridas e mal ‘transadas’ que correm para o mundo virtual achando que com isso, suas dores irão ser aliviadas. Com isso, acabam se tornando viciados nas salas de bate papo e sexo virtual sempre montando personagens perfeitos e enganadores. Vão em busca de suas presas como animais carnívoros. Infelizmente, pessoas com boas intenções também navegam e podem de uma hora para outra dar de cara com estes predadores que brincam com os sentimentos alheios sem um ‘pingo’ de sentimento de culpa. Crianças podem ser enganadas, os mais românticos envolvidos e o mundo pode literalmente vir abaixo para aqueles que tem a esperança de encontrar seu ‘ par perfeito’ na net.

Tenho escrito muito sobre inversão de valores e infelizmente a internet não veio apenas para abrir novos horizontes culturais para o mundo mas também para ajudar a piorar e mudar ainda mais estes conceitos, incentivar pessoas sem princípios e pior ainda, tapar o buraco dos relacionamentos que não estão dando certo servindo como fuga, troca ou satisfação sádica de fantasias sexuais.

Devemos enfrentar nossos problemas não fugindo para o mundo virtual e sim enfrentando a realidade por mais dura que ela seja.

Devemos voltar ao velho hábito da paquera sadia, do flerte olho no olho, no toque real, no beijo na boca e não na imagem de alguém a distância. Não devemos nos esconder atrás de um teclado fingindo ser o que não somos no mundo real, enganando pessoas boas, seduzindo e ainda por cima, achando que isso é algo muito normal e moderno.

Se isto tudo é ser moderno, prefiro ser chamado de antiquado pois sou a favor da normalidade e dos meios tradicionais de conhecer alguém. Deste modo, vendo os olhos, que são o espelho da alma, teremos a certeza que não estaremos caindo nas garras dos predadores virtuais que estão a solta por ai.....

Um comentário:

  1. Penso o seguinte: se a "net" é, como você disse, "um espelho real e perigoso", o que ela fez foi simplesmente nos revelar quem somos. Agimos de maneira instintiva, buscamos satisfazer nossas necessidades e somos muito pouco éticos. Assim somos. E nos dizemos racionais, nos julgamos evoluídos em relação aos outros seres... Que nada! "O ser humano me assombra", é o que dizia a conclusão de um livro que eu li recentemente e eu, infelizmente, concordo. Mas... nem tudo está perdido e a vida é bela mesmo assim. Um abraço e sucesso (no blog e na vida)
    Marcio Nicolau.

    ResponderExcluir